sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Um mapa, uma aventura fantástica
A cartografia como instrumento histórico

"Medir, calcular, representar. Miniaturizar o Mundo para o aprender. O progresso da Humanidade para alcançar o domínio dos espaços, estimando e dominando as distâncias, passa pelo engenhoso artifício da cartografia. Ao historiador as formas dessas tentativas, dessas construções da percepção, conta-se o percurso dos homens numa aventura fantástica para fazer avançar o conhecimento pela invenção científica.

História da cartografia, história de um instrumento científico, instrumento mental e material que é um resultado temporal e um momento visivelmente assinalado num processo de transformação. Também história da interpretação e leitura do espaço em que se vive e das motivações para se dele sair e passar mais além. Sabendo por onde regressar. Com as distorções e os erros que os limites das técnicas em cada momento vão impondo. Do rigor possível da feitura ou da reconhecida incapacidade de o atingir, do anonimato de um esboço à orgulhosa assinatura de um obra de arte – que a cartografia também é.

Que pela sua própria qualidade pode depois e por algum tempo representar um travão ao avanço do conhecimento. Fixar indevidamente uma realidade mal observada ou mal representada pode significar um atraso ou porventura um retrocesso.

A forma final de uma carta [mapa] é em si mesma uma lição de história de uma enorme riqueza, a requerer a argúcia de análises várias em que inúmeros dados e múltiplas disciplinas têm de ser trazidos para a compreensão de um fenômeno complexo que resultou objectivado num suporte manejável. Concreto. Material. Muitas vezes opaco na sua aparência actual. Porque o código de decifração pode faltar ou apresentar-se obscuro.
Perscrutar os significados globais para além das aparências é toda a tarefa do historiador, e do historiador da cartografia em especial.
Difícil encargo, de morosas e pacientes dedicações, de cruzamentos de história da ciência e de história da técnica, de história da cultura e de história das mentalidades. E uma história das esperanças e das expectativas. Porque uma carta tudo isso espelha e concretiza. Testemunho de natureza especial, que há que saber desvendar com tanta persistência quanta tiveram os que a souberam e quiseram elaborar. Num tempo que passa sempre com significados múltiplos. [...]"

Joaquim Romero Magalhães
Professor da Universidade de Coimbra
Presidente do Conselho Científico da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses


Retirado de Cartografia e Diplomacia no Brasil do século XVIII

O mapa está aqui

O ano é 1749,

Espanha e Portugal finalmente podem rever o que há muito está para ser revisto: o mundo.

Alexandre de Gusmão, um dos representantes da coroa lusitana, deseja rever as possessões das terras meridionais da América do Sul, nas margens do Rio Uruguai, a possessão das terras amazônicas e, por fim, a posse das ilhas Filipinas.

São vários pontos a serem abordados, envolvendo egos, riquezas, geografia e fé. As Negociações do Tratado de Madrid, portanto, estão longe de serem simples; e longe de agradar a todos.

Seria muita ingenuidade supor que os representantes dos países ibéricos, ao dividirem o mundo, não pediriam a aprovação das demais potências. Obviamente muitos pontos de vista e interesses devem ser levados em conta. As influências dos demais países na redação desse tratado é clara.

Portugal e Espanha ainda possuem várias pendências a serem resolvidas, e a ascensão britâniaca é evidente. Franceses e holandeses também têm ambições tão válidas quanto às do Reino da Grã-Bretanha. Por fim, a própria Igreja também tem na figura de seus representantes uma série de questões a tratar.

Os interesses são muitos, e o resultado é incerto. Apenas o que se pode afirmar é que o equilíbrio de forças não será nunca mais o mesmo.

O mapa está aqui, comecemos a riscá-lo.




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